Videojogos e dependência
Um artigo publicado no jornal científico Ata Paediatrica descreve a forma como o batimento cardíaco e o sono dos jovens pode ser afetado por jogarem videojogos violentos e pode haver consequências maiores no longo prazo. O texto baseia-se num estudo realizado pelas universidades de Estocolmo e Uppsala e o Instituto Karolinska, na Suécia, junto de jovens entre os 12 e os 15 anos.
Colocados perante dois tipos diferentes de videojogos, distintos pelo índice de violência, os rapazes foram submetidos a um registo dos batimentos cardíacos, entre outros parâmetros, quando jogavam, em suas casas à noite, e enquanto dormiam. Os resultados indicam que o batimento cardíaco dos jovens aumenta consideravelmente quando têm perante si jogos violentos comparativamente aos jogos sem essa matriz. E não só quando jogam, mas também enquanto dormem. Curiosamente, diz-se no artigo, os rapazes não sentiam que tivessem dormido mal depois de terem jogado, ao contrário do que revelam os dados apurados.
Os investigadores consideram que ainda é cedo para tirar mais conclusões, nomeadamente a longo prazo, mas é certa a influência daquele tipo de jogos no sistema nervoso e fisiológico. No artigo, sustentam ainda que este estudo ajudará a medir as consequências de jogar em consolas ou no computador e distinguir os diferentes efeitos de jogos diversos, além de perceber se há alguma substância na relação entre jogos “violentos” e comportamento agressivo. Paralelamente, o método poderá vir a permitir que se perceba a eventual dependência que causam os jogos.
Este artigo foi conhecido no dia em que foi lançada uma extensão do famoso jogo “World of Warcraft”. Em várias partes do mundo, incluindo Portugal, “The Wrath of the Lich King” foi lançada à meia-noite, com muitos fãs à espera para, eventualmente, passarem a noite colados na Internet a descobrir as novas realidades deste jogo que tem 11 milhões de jogadores online.
Embora o WOW seja jogado por internautas de todas as idades e um deles – cirurgião ortopedista – tenha dito ao Público online que o jogo tem "funções terapêuticas", as preocupações com as consequências deste jogo que é uma realidade virtual estão patentes em pais e professores. Por outro lado, um psiquiatra ouvido pela BBC teme a "demissão social" dos jogadores e o grau de dependência perante o jogo. Richard Graham, do Tavistock Centre, de Londres, conta que um dos seus pacientes, que atingiu um elevado nível no jogo, nesta realidade virtual, “sentia-se menorizado quando desligava o jogo” e “descia” ao mundo real.
“Os pais e os professores têm razões para ficar preocupados”, diz, "mas devem sobretudo perceber o que faz os jovens ligarem-se as estes mundos e mostrar-lhes que são realidades virtuais". Richard Graham revela mesmo que alguns dos seus pacientes chegam a jogar ou a discutir o jogo durante 14 a 16 horas por dia “sem se preocuparem sequer com as necessidades fisiológicas” e, sublinha, para esses “as consequências podem ser particularmente severas”.
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