Prespetiva sobre as origens da cultura
Cultura enquanto resposta a necessidades evolutivas
Numa perspetiva evolucionista, tal como a sugerida por Barkow et al. (1992), a cultura é vista como uma adaptação evolutiva particularmente flexível. A cultura, embora socialmente construída, responderia, assim, também a necessidades evolutivas, na sua formação entrariam também processos evolutivos onde as necessidades de sobrevivência e de reprodução desempenhariam um papel.
O estabelecimento de crenças, comportamentos, normas, expectativas e práticas partilhadas terá, segundo esta perspetiva, conferido vantagens adaptativas ao facilitar a organização de coletividades e a coordenação de atividades, a manutenção de comportamento coletivo e mutuamente apoiante, o que terá contribuído para a sobrevivência e sucesso evolutivo dos seres humanos.
É ainda de notar que quer no ser humano a ausência de determinadas adaptações biológicas provoca não só a necessidade de criar formas de vida coletiva mas também de transformar e construir um mundo onde a sua sobrevivência fosse mais fácil. Essa construção é não apenas a de um mundo próprio, humanizado, mas também a de modos de vida que são aprendidos no seio de uma sociedade, após o nascimento, através da participação naquilo que o rodeia.
Cultura enquanto resposta a necessidades psicológicas
Esta perspetiva procura compreender de que modo algumas necessidades psicológicas desempenham um papel nos processos de construção de cultura. Neste caso, a cultura enquanto conjunto de crenças, normas e práticas partilhadas permitiria, ao promover um sentido de integração e continuidade e ao fornecer um significado à existência humana, reduzir o impacto da ansiedade existencial, a ansiedade que resulta da consciência da finitude da vida, criando possibilidades de imortalidade simbólica (Teoria de Gestão do Terror, Greenberg e Solomon). Para além disso ao criar uma realidade partilhada, assim como um conjunto partilhado de regras de interpretação do próprio mundo, permite preencher a necessidade de conhecimento verificável, a necessidade de cada um ter formas de validar a sua própria construção da realidade, de viver num mundo partilhado (Perspetiva Epistémica, Hardin & Higgins).
Comunicação interpessoal e formação de cultura
Proposta por Latané, esta perspetiva vê a cultura como um subproduto emergente das interações entre as pessoas. Os atos comunicativos vão criando espaços geográficos e sociais de influência e assim criando regularidades e padrões de crenças e comportamentos. O processo é dinâmico e varia com o número e a proximidade dos membros de uma determinada população assim como com a sua potência enquanto fontes de influência social. Determinadas crenças e comportamentos têm maior tendência do que outros a serem influenciados socialmente pelo que o impacto deste processo não é o mesmo para todo o tipo de crenças e comportamentos de um determinado grupo populacional.
Embora a investigação integrativa destas perspetivas seja ainda muito escassa a consideração destas enquanto complementares traz vantagens à compreensão das origens da cultura.