O que é a psicologia? - Fernando Magalhães

O que é a Psicologia?

 

A psicologia tem conhecido um grande desenvolvimento em Portugal nos últimos anos, mas apesar desta divulgação e presença nos media de temas psicológicos, são frequentes algumas ideias preconcebidas, não inteiramente verdadeiras, sobre o que faz o psicólogo e o que é a psicologia.

 

A psicologia pode ser definida como a ciência que estuda o processo mental humano e o comportamento observável. A sua origem remonta ao século V a. C., altura em que Platão e Aristóteles se viam às voltas com muitos dos problemas que ocupam hoje os psicólogos. O estabelecimento formal desta ciência deu-se em 1879, em Leipzig, na Alemanha, com o laboratório de psicologia experimental de Wundt. 

 

A psicologia estuda todos os aspetos do funcionamento interno da mente, como a memória, os sentimentos, o pensamento e a perceção, bem como de funções de relação, como o comportamento e a fala. Estuda também a inteligência, a aprendizagem e o desenvolvimento da personalidade. Alguns dos métodos utilizados em psicologia são a observação, a recolha de histórias pessoais e a utilização de instrumentos de avaliação de funções cognitivas, como a inteligência e a personalidade. 

Existem vários ramos especializados, dentro da psicologia. Algumas das áreas que têm conhecido um maior desenvolvimento nos últimos anos são a psicologia clínica, a psicologia social e das organizações e a neuropsicologia. 

 

A psicologia é uma das disciplinas académicas mais antigas, mas também uma das mais novas. É que, apesar dos primeiros pensadores e filósofos já se debruçarem sobre questões que fazem hoje área de estudo da psicologia, foi no século XIX que os pesquisadores, apoiados na investigação e na experimentação, puderam construir uma identidade própria, aperfeiçoando os instrumentos, técnicas e métodos de estudo da psicologia.

 

Aristóteles (séc. IV a. C.) já descrevia as leis da associação, ao estudar a aprendizagem. Defendia a ideia de que o corpo e a alma formam uma unidade vital indivisível e de que "todos os afetos da alma são mostrados por um corpo, pois ao mesmo tempo que se dão determinações como a coragem, a brandura, o temor, a piedade, a audácia, a alegria, o amor, o ódio, o corpo experimenta uma modificação. Sócrates faz a distinção entre conhecimento sensorial e conhecimento racional e utiliza a argumentação lógica –

método sofista (ou socrático) para resolver os problemas da ética e da estética. Hipócrates descreve doenças psíquicas através da teoria dos humores e define a saúde e doença física e mental na base do equilíbrio dos humores, o que põe em causa a origem mágica e divina de então. Considerava que as relações entre estes humores determinavam o temperamento e a personalidade. Por exemplo, excesso de bílis amarela resultava num temperamento colérico (zangado, irritado). Também afirma que maltratar o cérebro causa a morte ou a loucura e que a epilepsia tem origem no cérebro, o que mostra uma conceção orgânica das doenças mentais.

 

No século XVII, Descartes defende um dualismo corpo-espírito. John Locke vai contra a tradição de se encararem os fenómenos psíquicos a partir de Deus e propõe a experimentação e a observação dos fenómenos (empirismo). Faz a distinção entre a experiência externa (sensação) e a experiência interna (reflexão). Leibniz considera a existência de fenómenos psíquicos inconscientes, pois fala em pequenas perceções que podem não se tornar objeto direto do nosso conhecimento, mas que podem influenciar o nosso comportamento.

 

Foi há pouco mais de cem anos que os psicólogos definiram os fundamentos da psicologia e o seu objeto de estudo. Ao longo do século XIX, à medida que o método científico era utilizado para resolver os problemas da psicologia, houve várias manifestações de que esta disciplina estava a emergir. Dão-se as enunciações das leis psicofísicas de Weber e de Fechner e a criação de laboratórios de psicologia por Sergi, em Roma. Mas foi então, em dezembro de 1879, que Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório de psicologia do mundo que permitiu conquistar autonomia para esta disciplina, emancipando-se da filosofia. Wundt também criou a revista Philosophische Studien, dedicada a relatos de experiências.

 

A Associação Americana de Psicologia (APA), a primeira organização científica e profissional de psicólogos, foi fundada em 1892. Depois de estabelecida, a nova disciplina desenvolveu-se e expandiu-se rapidamente, em especial nos EUA, onde ainda hoje detém um lugar de destaque na psicologia.

 

Este crescimento da psicologia tem sido acompanhado por um aumento enorme de informações provenientes de investigações, artigos teóricos e revisões da literatura, bem como de uma diversidade de fontes. A psicologia expandiu-se tanto em termos de número de técnicos, investigadores, académicos e de literatura publicada, bem como em termos do impacto na nossa vida quotidiana. Todos nós somos de alguma forma influenciados pelo conhecimento ou trabalho de psicólogos.

 

O campo de estudo da psicologia é muito vasto – alguns dos fenómenos que aborda fazem fronteira com a biologia, outros com as ciências sociais, como a sociologia. De uma forma geral, esta ciência interessa-se por aquilo que os organismos fazem – o comportamento e aqui inclui-se a atividade mental.

 

Se desejar ter uma ideia mais clara da vastidão de campos que a psicologia abarca, pode visitar o site oficial da Associação Americana de Psicologia, onde estão as 53 divisões ou domínios de estudo da Psicologia (site em inglês).

Algumas das suas vertentes mais importantes são a psicologia clínica, a psicologia da saúde, a psicologia da educação, a psicologia económica, a psicologia política, a psicologia do desporto  e a psicologia do trabalho e das organizações.

 

Fernando Magalhães, https://tvtel.pt/psicologia/page1.htm