Entrevista com Américo Batista

Entrevista com Américo Batista

 

Tema principal: As fobias

 

Adolescentes! (Adol.) – Antes de mais o que é uma fobia?

 

Américo Batista (AB) – Uma fobia é um medo exagerado. Digamos que é bom termos medo porque o medo protege-nos. Mas, se os medos são um modo biológico de proteção, ou um alarme avisador de situações potencialmente perigosas, há circunstâncias em que podem ter um efeito inaproprido e limitador. Por exemplo, felizmente que os meninos têm medo de atravessar a estrada. Mas esse medo deixa de ser bom a partir do momento em que os meninos nunca atravessam estradas porque têm medo. Isso já é uma fobia – um medo exagerado, fora do controlovoluntário e que interfere com a vida normal da pessoa, criando incapacidades de desempenho.

 

Adol. – É uma doença ?

AB – não podemos dizer que seja uma doença. É antes uma emoção exagerada que impede o nosso funcionameneto normal.

 

Adol. – Existem algumas fobias – tipo na adolescência ?

AB – Como reação normal e adaptativa, os medos variam com a idade e têm padrões previsíveis de aparecimento, manutenção e desaparecimento. No caso da adolescência, as fobias sociais são as mais características.

 

Adol. – Porquê as fobias sociais ?

AB – A partir de determinada altura começamos a ter consciência de que os outros são capazes de formar uma opinião sobre nós independente da nossa – o que não acontece durante a infância. Portanto, preocupamo-nos com o que pensam de nós – e isto é típico da adolescência.

Por outro lado, há uma outra coisa fundamental na adolescência: o Homem é um ser predominantemente gregário e é nessa altura que a relação com os pares se torna muito importante. E, quando há a formação de grupos de pares, quere-se sempre que os outros tenham a melhor impressão de nós. Portanto, preocupamo-nos muito se não conseguimos transmitir aos outros a ideia que queremos.

Estes dois aspetos, a formação de grupos de pares e a perceção de que os outros são capazes de ter uma ideia de nós diferente da nossa, levam os adolescentes a preocuparem-se com o que os outros pensam deles e, consequentemente, desenvolvem mecanismos que os tornam menos espontâneos, de modo a darem aos outros a impressão que gostariam que os outros tivessem deles. Assim aparecem os medos sociais.

Existe, de um lado, a vontade de impressionar, por outro, a incerteza de o conseguir. E as fobias sociais estão relacionadas exatamente com estes dois fatores.

 

Adol. – Mas nem sempre o medo social leva à fobia social...

AB – Exato. Todos passamos pelo medo social, mas isso não quer dizer que se transforme em fobia. Os padrões desenvolvimentais são controlados por fatores genéticos, de maturação e ainda pela interação do indivíduo com o meio. E, do ponto de vista desenvolvimental, a transformação do corpo que acontece na adolescência é algo extremamente complicado. É natural, por exemplo, as meninas que tenham algum receio do seu corpo colocarem uma camisola em torno da cintura para disfarçarem o corpo que têm. Essa incerteza a propósito da ansiedade relacionada com a aparência social assume um carácter dramático na adolescência. Mas é bom. Porque é nessa fase que se faz a integração nos grupos. E quanto melhor a aparência mais a simpatia, melhor a integração no grupo. Portanto a preocupação é boa. Agora imaginemos que essa preocupação faz com que os adolescentes tenham medo de ter pelos ou não, ser altos ou baixos, ter mamas grandes ou pequenas, e por isso não saem de casa. Nesse caso estamos perante uma fobia social. Porque, e é preciso ter isto presente, fobia é só quando o medo é tal que impede o bom desempenho, enquanto o medo é motivador para a ação"

 

Entrevista de Marina Marques, Revista Adolescentes! n.º 8