Bipolares têm pior qualidade de vida - Ciência hoje

Bipolares têm pior qualidade de vida mental e física

 

Um estudo realizado no Instituto da Universidade de Granada e na Unidade de Saúde Mental do Hospital de Neurotraumatologia de Jaén avaliou a qualidade de vida dos pacientes que sofrem de desordem bipolar (DB), comparando-a com a da população em geral e quais as variáveis associadas a uma pior qualidade de vida. Uma parte dos resultados desta investigação surgiu num artigo científico, em agosto de 2008, na revista internacional Bipolar Disorders. O boletim Headlines da American Psychiatric Association designou o texto como sendo o mais importante do mês publicado nas revistas de psiquiatria quanto a desordens e ao seu tratamento.


Para realizar este trabalho, os investigadores da Universidade de Granada, Luiz Guitiérrez Rojas e Manuel Gurpegui Fernández de Legaria, entre outros, analisaram 108 pacientes que apresentavam a doença face a um grupo comparativo constituído por 1210 pessoas que não apresentavam sinais de bipolaridade. No primeiro conjunto, 48 deles não mostravam sintomas; e os 60 restantes já tinham indicações substanciais da doença aquando da avaliação.

A DB, anteriormente conhecida como psicose maníaco-depressiva, atinge aproximadamente três pessoas em 100, e consiste em sofrer recorrentemente de depressões (fase depressiva) alternadas com episódios de euforia (fase maníaca). Nestes casos, o paciente oscila intensamente (algumas semanas ou meses) entre a alegria e a tristeza, desfrutando também de épocas de normalidade.

Má qualidade de vida física

Os cientistas granadinos chegaram à conclusão que os pacientes que sofrem da doença têm uma pior saúde mental do que o resto da população; mas descobriram ainda que têm uma má qualidade de vida ao nível físico. A razão pode estar associada ao facto de estes consumirem mais substâncias aditivas como tabaco e álcool e o tratamento farmacológico acaba por falhar mais facilmente e leva a um estilo mais sedentário.
No seguimento desta investigação percebeu-se também que os pacientes de DB que têm falta de qualidade de vida mental são os que começaram a sofrer da doença aos 20 e poucos anos, que apresentam maiores sinais de dependência de tabaco e são mais depressivos. Mais ainda, os investigadores demonstraram que o facto de terem um forte apoio social (por exemplo, a família) está associado a uma melhor qualidade de vida. A pesquisa evidenciou que os sintomas depressivos (tristeza, apatia, fadiga, dificuldade de concentração, insónia, falta de apetite, etc.) afetam mais os pacientes do que os que apresentam estados maníacos (grande estima por si, desinibição, verbosidade, hiperatividade, aumento do apetite sexual, etc.). Estes também têm mais falta de capacidade ou repercussões negativas quanto à capacidade de trabalho e de vida familiar ou em sociedade; o que se deve provavelmente ao facto de os maníacos terem uma reação mais positiva e breve à medicação.

Intervir ativamente

Luis Gutiérrez Rojas sublinha que tendo em conta os resultados do trabalho, deveria intervir-se ativamente para ajudar os que apresentam sintomas depressivos ou uma dependência tabagista elevada. No entanto, outras variáveis podem parecer igualmente serem importantes, como existirem antecedentes da doença na família, terem sofrido de traumas ou terem vivido uma tentativa de suicídio, mas estas não se mostram significativamente associadas à má qualidade de vida.

 

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